Trabalhadores do Complexo do Mercado de São Brás receberam o Crédito Solidário da Prefeitura de Belém, por meio do Banco do Povo, para investir na melhoria dos próprios negócios. A iniciativa faz parte da estratégia de requalificação dos permissionários do local, que incluiu qualificação profissional e orientações sobre empreendedorismo.
A estratégia foi planejada em conjunto com a Associação dos Empreendedores do Mercado de São Brás (AECOM) para atender, inicialmente, o setor da gastronomia. O objetivo é preparar os empreendedores para a conclusão da reforma do mercado e para a COP-30, a convenção da ONU sobre mudanças climáticas, que será em Belém, em 2025.
No dia 6 de dezembro de 2023, 15 empreendedores do Complexo do Mercado de São Brás estiveram no Banco do Povo para assinar os contratos de adesão do crédito solidário. O volume total de recursos liberado para o grupo foi de R$ 52.400,00. Individualmente, os valores de crédito concedido variam de R$ 2.200,00 a R$ 4.800,00.
O dinheiro já está na conta dos beneficiários. Desde que foi reativado pela Prefeitura, em fevereiro de 2022, o programa já liberou o volume total de R$1.374.452,00 em 459 operações de crédito para vários bairros e distritos de Belém, que beneficiaram 136 homens (R$ 429.437,00) e 323 mulheres (R$ 945.215,00), ou seja, 70% do total de pessoas atendidas.
Telma Lúcia Pimentel, de 58 anos, há 25 anos comercializa refeições no complexo. Com os R$ 3 mil recebidos do Crédito Solidário ela planeja comprar mercadorias que irão subsidiar a produção das refeições que comercializa diariamente. “Vai me ajudar muito. Chegou em boa hora. Vou pagar em um ano com a parcela de R$ 261,41. Tenho que ter capital de giro para atender quem vai me pagar somente no final do mês”, conta.
A coordenadora-geral do Banco do Povo de Belém, Georgina Galvão, ressalta a parceria realizada pela Prefeitura com os trabalhadores do complexo. “Nas fases anteriores desse atendimento, foi realizado o curso de Planejamento de Cardápio, por meio do programa de qualificação profissional Donas de Si, além de oficinas sobre gestão do negócio e atendimento ao cliente, realizados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Microempresas (Sebrae) e Secretaria Municipal de Economia (Secon)”, recorda.
Telma Lúcia foi uma das alunas desse curso: “Aprendi vários pratos diferentes, pirarucu à casaca e escondidinho de charque”, destaca.
Já Maria de Nazaré Azevedo, de 35 anos, que vende lanches no mercado, conta o que aprendeu nas oficinas de empreendedorismo: “Aprendi a trabalhar com capital de giro. Me ajudou bastante. Aprendi a anotar tudo: o que sai, o que fica (de produtos), o que gasto e o lucro. Às vezes, a gente não vê para onde vai o dinheiro”.
Ela também recebeu o microcrédito no valor de R$ 3 mil, que pretende investir em mercadorias, além da aquisição de um ventilador e de um liquidificador novos para trabalhar.
Georgina Galvão reforça que, após o atendimento do setor da gastronomia, todos os demais setores em atividade no Complexo do Mercado de São Brás serão atendidos com cursos e crédito solidário.
Como funciona
O programa de microcrédito da Prefeitura de Belém é uma iniciativa de apoio ao pequeno empreendedor, geralmente sem acesso a bancos comerciais, que concede até R$ 5 mil para pessoas físicas e de até R$ 10 mil para pessoas jurídicas, com pagamento parcelado de 12 a 24 vezes, carência para começar a pagar e juros baixos que variam de 0,01% (juro zero) a 1,5%. Essa política tem a finalidade exclusiva de ser aplicada no empreendimento do tomador do crédito.
O Crédito Solidário foi criado na primeira gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, em 1997, por meio da Lei n 01/97, que criou o Fundo Ver-o-Sol (cujo nome fantasia é Banco do Povo de Belém) como estratégia de geração de emprego e renda e dinamização da economia. Porém, nas gestões seguintes, o microcrédito passou anos inoperante. O programa foi reativado em fevereiro de 2022.
Obra
O prédio histórico do Mercado de São Brás, de arquitetura neoclássica e Art Noveau, datado de 1910, fica localizado em um dos principais pontos de circulação de pessoas da cidade de Belém. As obras de reforma e requalificação foram iniciadas em junho deste ano, com previsão de término em 18 meses. Essa obra é um dos projetos prioritários da Prefeitura de Belém para a COP-30.
Ao todo, cerca de 300 pessoas trabalham de forma autônoma no complexo do mercado, que envolve estruturas do entorno. Com a reforma, os permissionários que estavam no espaço foram transferidos para uma feira provisória, localizada a poucos metros de distância.